segunda-feira, 21 de novembro de 2011

E.I.C.A., Abrantes - 19nov2011

Encontro de antigos alunos da E.I.C.A., centrado nos caloiros de 1969-1970, das turmas 3 e 5 do Curso Geral de Comércio. Outros se juntaram; outros vão aparecer em futuros (re)encontros.
Correu tudo muito bem!

Muito obrigado à Direção da Escola Secundária Dr. Solano de Abreu, que muito generosamente e solidariamente cedeu a bandeira da Escola para este encontro de antigos alunos da Escola.
Da Escola Industrial e Comercial de Abrantes a Escola Secundária Dr. Solano de Abreu recebeu a matriz e o legado histórico. Da nossa parte, a escola que projeta no futuro a que foi a nossa escola pode contar com o que nos resta do entusiasmo e do sonho juvenil; e pode contar também com o que conseguimos juntar, ao longo dos anos, de sabedoria "de experiência feita".

domingo, 20 de novembro de 2011

Este barbeiro deu 10, quem dá mais?


Na sexta-feira passada, dia 18, ao final da tarde, ao chegar a casa, não fui direitinho à minha porta. Fui, em vez disso, espreitar à porta do barbeiro. Boa! O próprio barbeiro estava sentado na cadeira onde os clientes se sentam, a ler o jornal.
Entrei imediatamente, mas ele, em contrapartida, não reagiu imediatamente. Fez-me mesmo pensar que não tinha ficado agradado com a minha chegada ali. É a segunda vez que ele me vai cortar o cabelo, está ali há pouco tempo, conheço-o ainda mal. Ora bem, eu queria dar um jeito ao cabelo, ando há 15 dias para o fazer, o jovem profissional de barbearia que tivesse paciência. Até fechar, tinha tempo para me atender e atender mais dois ou três clientes; ou mais, se quiserem cortes simples como eu sempre quero.
Fui controlando o jovem brasileiro pelos cantos dos olhos. Sentia que o pente coçava a minha cabeça com mais força que o costume; os gestos de puxar os cabelos com o pente eram irregulares. Deixou cair ao chão esse utensílio fundamental 2 ou 3 vezes. Mau!... Ao fim de algum tempo de começar a cobrir de cabelos o grande lençol com que os barbeiros habitualmente tapam ombros, peito e braços dos clientes, o rapaz parecia ter-se definitivamente entregado à sua tarefa, com o cuidado que os clientes sempre gostam de ver em quem cruza tesouras e lâminas junto dos seus escalpes, orelhas e pescoços.
Achei prudente não entabular conversa, o rapaz, hoje, não parecia desejoso de conversas que teria de suportar respeitosamente.
Quando acabou, puxou do habitual espelho, passou-mo pela nuca, da esquerda para a direita e da direita para a esquerda e sem esperar que eu lhe respondesse à tradicional pergunta "- Está bem assim?...", rematou com um comentário cheio de significados: "- Hoje tirei-lhe 10 anos, o senhor hoje vai daqui com menos 10 anos!..." O moço deixou-me penteado com o cabelo todo para trás. Já da outra vez, eu disse-lhe que não me penteava assim, era com risco ao lado, do lado esquerdo. Resolvi não lhe dizer nada, depois de tudo o que aconteceu, de certeza que a conversa azedaria. Despachei o ritual maquinal do espelho com um vago "Sim... sim..."
Dois dos significados principais da tirada do jovem imigrante brasileiro:
  • Significado n.º 1: Ele viu-me como velho! Sim, viu-me com uma idade que o fez pensar que eu já estou naqueles grupos etários que gostam de parecer mais novos. O rapaz, realmente, hoje não está nos dias dele! Eu não lhe tinha dito fosse o que fosse que tivesse a ver com idades ou temas afins. Se quis ser simpático comigo, teve azar, de mais a mais, depois da receção quase hostil que me fez quando entrei - legitimanente e educadamente - no seu espaço de trabalho.
  • Significado n.º 2: Ele tinha qualquer coisinha a remoer-lhe na consciência, daí a necessidade de, com este comentário, estar a dizer-me, de forma implícita, que tinha feito um bom trabalho, por isso eu só tinha razões para ficar contente com ele.
Bem, resolvi não dificultar a vida ao rapaz, mas também não queria que ele me tomasse por ingénuo. Resolvi pôr alguma pedagogia no meu comentário e deixá-lo a pensar. E se ele pensava que estava a ser convincente anulando-me qualquer possibilidade de não me submeter ao seu veredito, pois estava enganado, eu ainda tinha alguma coisa para lhe dizer. Até com bom humor lhe responderia, para que ele tivesse ainda mais motivação para pensar na maneira como me tinha atendido.
"- 10 anos?... O senhor está a dizer-me que tirou-me 10 anos da cara? E só agora é que me diz isso?..."
Realmente, o rapaz não estava à espera que eu reagisse assim, parou automaticamente de sacudir o lençol, cobriu a cara com uma expectante preocupação e perguntou-me:
"- O senhor queria que eu tivesse dito antes?... O senhor acha que eu fiz alguma coisa de errado?..."
"- Errado, quer dizer... - disse-lhe eu, a tomar a liderança da conversa - Errado, errado, não está... Mas isso não me chega, 10 não é nada...
O rapaz já estava de olhos quase esbugalhados à espera de ouvir o que eu ainda tinha para dizer.
"- Se eu soubesse que o senhor era capaz de fazer essas coisas, quando me perguntou como é que eu queria o corte, eu, logo nessa altura, tinha-lhe respondido que queria que me tirasse 40 anos. Isso sim, isso é que me punha a sair bem satisfeito daqui hoje."
O rapaz contraiu os músculos da cara daquela forma em que ficamos a saber que a pessoa já não está a perceber nada. Definitivamente, ele tinha perdido o controlo da conversa. Pronto, era hora de eu ser manso e magnânimo com ele, e fechar a conversa. Antecipei a satisfação do encontro do dia seguinte, enchi-me de afetos positivos e imaginei-o longe da sua família, longe dos seus afetos positivos. Sorri enigmaticamente para o rapaz e fiz um esgar de maneira a que ele percebesse que eu lhe ia dizer qualquer coisas. Ele estava feito quase estátua, de lençol na mão, caído, na expetativa; os olhos dele seguiam os meus. Levantei-me da cadeira, sacudi dos ombros os cabelos que pensamos que estão sempre lá (mesmo que os ombros tivessem estado cobertos pelo longo lençol), cheguei-me ao pé dele e pus-lhe amigavelmente a mão sobre o ombro dele:
- Meu caro amigo, amanhã vou ter um encontro com amigos que não vejo há 40 anos! Se eu soubesse que o senhor era capaz de fazer milagres desses, tinha-lhe pedido que me tirasse os anos que era preciso para que os meus amigos me reconhecessem logo, sem problemas, tal qual eu era quando deixámos de nos ver. Está a ver? Podia ter feito um trabalho fantástico comigo e ficou-se só pelos 10 anos... É capaz de ser bom, mas para mim não dá, eu precisava de mais 30!
O rapaz continuava com ar de quem não sabe bem que chão estava a pisar, não sabia se eu estava satisfeito ou aborrecido. Resolvi chegar ao fim da conversa. Era hora de aliviá-lo:
"- Continue a treinar, está no bom caminho, quando o senhor for capaz de tirar 40 anos e não apenas 10, nem sabe o senhor a quantidade de fregueses que eu sou capaz de lhe arranjar!... Eu depois venho cá dizer-lhe se os meus amigos me reconheceram ou não."
Finalmente o rapaz soltou uma gargalhada.
"Muito agradecido, senhor, eu vou tentar, pode acreditar!"
E aqui está, quem não gostou de me ver chegar ficou bem contente antes de me ver partir. Antes de me juntar no dia a seguir com os meus v*lhos amigos, e por causa deles, terei ajudado um jovem afastado dos seus familiares e amigos a sentir-se um pouco mais aconchegado nos seus afetos. Paguei-lhe os 9 euros do costume com os 10 euros do costume. Estendi-lhe a mão, e desejei-lhe um bom fim de semana. Desejou-me o mesmo. Que diferença entre o sorriso dele à minha entrada e à minha saída! Graças à minha malta da E.I.C.A.!

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O almoço em Alferrarede, no dia 19 de novembro de 2011. Em jeito de manifesto.

‎"Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma, (...)"
(Fernando Pessoa)

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Fizemos como o deus de Fernando Pessoa: quisemos. E não quisemos com especial ousadia, simplesmente quisemos, porque para isso nos puxava o coração.
Fizemos depois como os outros homens iguais a nós: sonhámos. Sonhámos e passámos a trocar os sonhos no Facebook e ao telefone. Alguns dos homens encontraram-se mesmo e falaram.
A obra nasceu: uma mesa, que nem interessa que seja farta. Uma mesa que vale pela aproximação de braços saudosos de abraços. Uma mesa que traz para bem perto dos olhos ávidos os rostos dos velhos amigos e companheiros, nos quais todos queremos reencontrar a expressão do olhar, ou o jeito do sorriso que há tanto tempo ficaram fixados na memória de cada um. Uma mesa que faz reconhecer aquele jeito de falar, aquele timbre de voz que, afinal, nunca se deixou de saber a quem pertencia, mas que há tanto tempo não se ouvia.

Deus quis que a terra fosse toda uma,
Também quisemos que a terra que é mesmo só uma - a da escola em que um dia, há muito tempo, nos juntámos -, testemunhasse a lealdade à velha amizade, ao antigo carinho, às ténues ou rijas memórias.

Que o mar unisse, já não separasse.
O mar, para nós, é a distância que nos separou estes anos todos. A distância nós vencemos, pela distância nos juntámos porque a força da vontade de nos juntarmos foi-se afirmando cada vez mais forte; e assim, não só foi a a distância que vencemos, vencemos também os anos.

Sagrou-te, e foste desvendando a espuma, 
A sagração será o tilintar dos copos uns nos outros. Brindaremos aos que estão ao nosso lado, de braço estendido e copo na mão. No pensamento e no coração de todos nós muitos mais companheiros estarão. Alguns deles, um dia, próximo ou mais distante, juntarão ainda o copo deles aos nossos. Outros nunca faltarão, mesmo que nunca mais possam estar fisicamente juntos de nós. Estejam onde estiverem, estarão sempre connosco nestes encontros, e ajudarão, com a saudade que temos deles, a intensificar o brilho da chama dos afetos.
A espuma, aos poucos, esgotar-se-á na última bolha. Nessa altura, restará a limpedez do caminho que teremos pela frente, a partir de agora. Esse será o desafio em que poderemos de novo envolver-nos, com a restea de entusiasmo e sonho que guardámos na nossa juventude, fosse nas aulas, fosse nos intervalos delas. Esta restea não chegará para tudo, mas também não é preciso que faça tudo, basta que acenda mais uma fogueira. O resto que será preciso, fomos precavidos e temos andado a juntar, aos poucos, estes anos todos: sabedoria. Carradas dela, que ninguém tenha dúvidas! Esperem para ver!...

Dia da Espiga, na EICA

Esta fotografia foi, em boa hora, trazida a nós pelo Manuel João Alves Antunes, que a colocou no Facebook, na véspera do encontro de alguns antigos colegas de escola, alguns dos quais não se veem há mais de 40 anos!
A fotografia (EICA - Dia da espiga, fonte dos pastores Quinta da Dª Amélia), associada à intenção de nos voltarmos a encontrar amanhã, bem pertinho da escola que nos nos pôs a fazer parte das vidas uns dos outros, faz-me lembrar de um poema de Guerra Junqueiro, do qual copio para aqui alguns versos:

"Recordam-se vocês do bom tempo d'outrora, 
Dum tempo que passou e que não volta mais,
Quando íamos a rir pela existência fora
Alegres como em Junho os bandos dos pardais?
(...)
Para trás, para trás, para os tempos remotos
Tão cheios de canções, tão cheios de embriaguez,
Porque, ai! a juventude é como a flor do lótus,
Que em cem anos floresce apenas uma vez. "



Pois que assim seja, que amanhã voltemos a alguns pedaços da nossa juventude! Que amanhã possamos sentir, por mais breve que seja o instante, o sabor que foi a nossa juventude. Seguramente, dessa juventude todos nós guardámos um pedacinho!

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Juventude, sobretudo a nossa

Eugénio de Andrade fez publicar, no ano em que alguns de nós (como é o meu caso) nasceram - 1956 -, um poema que titulou: JUVENTUDE
Diz assim o poema:


Sim, eu conheço, eu amo ainda 
esse rumor abrindo, luz molhada, 
rosa branca. Não, não é solidão, 
nem frio, nem boca aprisionada. 
Não é pedra nem espessura. 
É juventude. Juventude ou claridade. 
É um azul puríssimo, propagado, 
isento de peso e crueldade. 
Eugénio de Andrade, in "Até Amanhã", 1956


A alguma coisa da nossa juventude teremos oportunidade de voltar no encontro do próximo sábado. Vamos aproveitá-lo! Sem pesos, sem crueldades!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

"Meus secretos amigos"

Ora aqui está um texto do brasileiro Paulo Sant'Ana, que tem sido muitas vezes plagiado.
Parece-me um texto bonito, a merecer a nossa atenção. Podemos rever-nos nele, pelo menos nalgumas partes, diz coisas que tantas vezes gostaríamos de saber dizer com oportunidade.

Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles... Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências… A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Essa mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles! Eles não iriam acreditar! Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação dos meus amigos, mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não o declare e não os procure. Às vezes, quando os procuro, noto que eles não têm noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida. Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos morrerem, eu desabo! Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles e me envergonho porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem-estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo. Por vezes, mergulho em pensamento sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer… Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos e, principalmente, os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus verdadeiros amigos. A gente não faz amigos, reconhece-os. *Texto publicado em 15/04/1994 em Zero Hora

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Quando deixei de ser supersticioso... arrependi-me logo a seguir!

Quando entrei no Ciclo Preparatório, entrei com uma superstição, baseada na expressão popular que diz para entrarmos nas coisas com o pé direito. Hoje ainda se vê isso muito nos campos de futebol, não é?
Pois fiz isso mesmo, entrei logo no primeiro dia de aulas do 1.º ano com o pé direito. E sempre assim fiz esse ano, e assim reentrei na escola no 2.º ano do ciclo. Até que um dia achei que aquilo, se calhar, era uma patetice; além disso, já estava a começar a ficar farto de tantas vezes ter de acertar o passo à entrada da escola. Pronto, um dia, enchi-me de convicção e com algum exagero mesmo entrei com o pé esquerdo.
Não sei porquê, tenho ideia de ter sido a uma terça-feira, pormenor que provavelmente não tem importância nenhuma.
Ora aconteceu que nesse dia tínhamos aula de Matemática, com o professor "Cocita", lembram-se? Pois bem, nessa aula ele chamou-me ao quadro e fez-me uma chamada sobre ângulos e triângulos, com revisão de alguma matéria do 1.º ano. A coisa não correu bem. No fim da chamada, eu, ali no estrado, virado para a turma toda e para ele, que estava sentado numa das carteiras dos alunos, ouvi-o dizer-me: "Ai, ai, senhor Pinto, como isso anda!... Tem 8!..." Foi um oito prolongado, que o professor parecia que não queria parar de dizer, aposto que porque sabia o efeito que estava a provocar em mim e estava a divertir-se com isso. (Os pruridos que hoje em dia há em falar em coisas das escolas e das aulas obrigam-me a dizer que ele não estava a ser nada ofensivo, era o jeito dele, como a gente bem lhe conhecia) Depois ainda se levantou, veio na minha direção e "afagou-me" as orelhas naquele seu estilo muito pessoal.
Eu nunca tinha tido, até ali, uma negativa, nem em testes, nem em chamadas!...
Já estão a ver o que aconteceu a seguir: voltei imediatamente à superstição de entrar com o pé direito na escola, pois claro! (Evidentemente, também tive o cuidado de passar a estudar um pouquinho mais de Matemática. No ano a seguir, já no curso comercial, voltei a ter uma experiência parecida, a Direito Comercial, com o professor Consciência, depois contarei essa ocorrência noutro apontamento neste blogue)
Só no 5.º ano me decidi outra vez a ousar quebrar a superstição. E não aconteceu nada de mal no dia em que o fiz! Boa! E pronto, até hoje. Mas nunca mais me esqueci daquela manhã em que fui "forte" a entrar na escola com o pé esquerdo. Quantas vezes, agora, a entrar na escola em que dou aulas, me lembro do que aconteceu. Até já houve alunos que me perguntaram: "Ó 'stôr', porque é que se vai a rir assim?..." "Um dia vos conto..." respondo-lhes eu. Mal sabem eles que quem vai naquele momento a entrar na escola é o o aluno, de farda azul, à entrada da sua escola, em Abrantes, que um dia ousou desafiar o saber supersticioso das culturas populares... e se tramou com isso!...

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Pólo norte - Se eu voltasse atrás

Não sou um saudosista. Até hoje, nunca o fui. Não tenho razões de queixa da vida, bem pelo contrário.
Lembro-me, lá perto dos meus 15 anos (mais ano, menos ano), de uma conversa que, um dia, lá na escola, ia tendo com o Cunca, na descida do campo de andebol para o pátio dos rapazes (sim, como a tv popularizou, nós "ainda somos do tempo em que" os pátios, as escadas de acesso e a maioria das turmas eram diferentes para rapazes e raparigas), em que dizíamos um para o outro, muito cientes das palavras que usávamos, que tínhamos que aproveitar o melhor possível os momentos da escola. É que tínhamos a perfeita consciência que estávamos a viver os melhores anos da nossa vida, precisamente os que, regra geral, deixam mais saudades.
Penso que mais alguém ia connosco, não éramos só os dois, mas hesito em identificar quem fosse. Por isso, o melhor é não fazê-lo. Era giro que mais alguém se lembrasse desta conversa!...
Não tenho dúvidas que há quem nunca mais queira voltar à sua infância e à sua juventude. Respeito quem assim sinta, e por isso não me atrevo a ser mais exuberante com a alegria e a satisfação dos meus verdes anos.
Os anos da meninice e da juventude são, na sua natureza psicológica, anos de ilusões e de magia; por isso nos deixam saudades bem especiais. Até acabei por vir a aprender a falar disto com os termos muitos técnicos da ciência que abracei na minha formação universitária, a Psicologia.
O que subscrevo inteiramente neste tema que os Pólo Norte interpretam (ou reinterpretam) é que daria mesmo alguns anos da minha vida para me voltar a encontrar com os meus velhos colegas de escola, exatamente assim como nós éramos nesse tempo. Um dia só que fosse, por meia dúzia de anos da minha vida! Ai não que não daria!
Não éramos amigos de todos, nem todos eram nossos amigos, é sempre assim. Mas todos tínhamos amigos, até os que diziam que não tinham amigos tinham amigos. Se nos encontrássemos todos outra vez, os que já eram nossos amigos, que bom iria ser revê-los!... E, quem sabe?, alguns dos nessa altura não eram nossos amigos passariam a sê-lo a partir deste dia!
Já viram o que seria a minha vaidade e a do Cunca a dizermos um ao outro: "A gente já sabia mesmo como ia ser esta coisa das saudades!..."?
Já viram o que seria podermos dar um abraço aos que já nunca mais poderemos abraçar?
Isto não é saudosismo, pois não?... Isto não é lamechice, pois não?...

E.I.C.A.-Abrantes 1969/70, Curso Geral de Comércio, turma 5, ano 1.º

A entrada nesta turma foi quase um choque para mim, e penso que só tomei clara consciência disso quando, sentado na última ou penúltima fila da sala de aula, eu, provavelmente o mais pequenito da turma - ainda por cima, com tantos colegas à minha frente, todos mais altos do que eu - ouvi a professora de Francês dizer: "Como só são 7 os alunos que não são repetentes, eu dou as aulas para os outros, eu falo devagar, e os sete não repetentes seguem com atenção as aulas."
Felizmente, aconteceram depois duas coisas:
Primeira: adorei esta turma, tive colegas fantásticos, que foram sempre excelentes colegas e companheiros!
Segunda: no ano a seguir, a professora de Francês que nos calhou em sorte teve a sabedoria para, qual "revolução de veludo", nos ajudar a recuperar completamente no atraso que levávamos na disciplina.
Agora, como professor, percebo melhor a opção - arriscada, muito arriscada - que a primeira professora de Francês fez.
É verdade, curiosamente, ou melhor, significativamente, o que nos safou a todos, foi o companheirismo da turma. Esta turma fez coisas que ainda hoje não me atrevo a contar em público, ou fora do grupo. Chamo-lhes agora "marotices mansas" que só foram possíveis pelo entrosamento enorme entre todos. Sem ofender física ou psicologicamente fosse quem fosse. Os alunos marotos de hoje em dia teriam muito a aprender connosco. Até parecia que éramos uma turma muito bem comportada!...

E.I.C.A.-Abrantes 1967/68, cp, turma 5, ano 1.º


E.I.C.A.-Abrantes 1969/70, cgc, turma 3, ano 1.º; e turma 4, 1.º

Esta turma é aqui publicada agora em atenção ao José Vitoriano, que pediu, através do Facebook, as fotografias da sua turma.
Acabámos por nos tornar colegas no ano a seguir. Também alguns dos rapazes desta turma transitaram para a turma que partilhámos no 4.º ano.
Lembro-me que mais tarde, na Secção Preparatória, tive a Natália como colega de turma. Da Rosário não digo nada!... Fico à espera que seja ela a dizer, pelo menos já a avisei deste blogue. Vá, Zára, vamos a isto!...
O José António Chambel e eu acabámos por nos tornar primos por afinidade, ele veio a casar com uma prima minha, a Maria da Luz Coelho, que fez o ciclo preparatório também na E.I.C.A.

Da turma 4 do 1.º ano faltam aqui as fotografias do José António Damas Ferreira (n.º 133) e do José António de Jesus Grácio (n.º 134)

E.I.C.A.-Abrantes 1962/63, cme, turma 24, ano 3.º, e cs, turma 27, ano 3.º

E.I.C.A.-Abrantes 1971/72, Curso Geral de Comércio, turma 13, ano 3.º