sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O almoço em Alferrarede, no dia 19 de novembro de 2011. Em jeito de manifesto.

‎"Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma, (...)"
(Fernando Pessoa)

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Fizemos como o deus de Fernando Pessoa: quisemos. E não quisemos com especial ousadia, simplesmente quisemos, porque para isso nos puxava o coração.
Fizemos depois como os outros homens iguais a nós: sonhámos. Sonhámos e passámos a trocar os sonhos no Facebook e ao telefone. Alguns dos homens encontraram-se mesmo e falaram.
A obra nasceu: uma mesa, que nem interessa que seja farta. Uma mesa que vale pela aproximação de braços saudosos de abraços. Uma mesa que traz para bem perto dos olhos ávidos os rostos dos velhos amigos e companheiros, nos quais todos queremos reencontrar a expressão do olhar, ou o jeito do sorriso que há tanto tempo ficaram fixados na memória de cada um. Uma mesa que faz reconhecer aquele jeito de falar, aquele timbre de voz que, afinal, nunca se deixou de saber a quem pertencia, mas que há tanto tempo não se ouvia.

Deus quis que a terra fosse toda uma,
Também quisemos que a terra que é mesmo só uma - a da escola em que um dia, há muito tempo, nos juntámos -, testemunhasse a lealdade à velha amizade, ao antigo carinho, às ténues ou rijas memórias.

Que o mar unisse, já não separasse.
O mar, para nós, é a distância que nos separou estes anos todos. A distância nós vencemos, pela distância nos juntámos porque a força da vontade de nos juntarmos foi-se afirmando cada vez mais forte; e assim, não só foi a a distância que vencemos, vencemos também os anos.

Sagrou-te, e foste desvendando a espuma, 
A sagração será o tilintar dos copos uns nos outros. Brindaremos aos que estão ao nosso lado, de braço estendido e copo na mão. No pensamento e no coração de todos nós muitos mais companheiros estarão. Alguns deles, um dia, próximo ou mais distante, juntarão ainda o copo deles aos nossos. Outros nunca faltarão, mesmo que nunca mais possam estar fisicamente juntos de nós. Estejam onde estiverem, estarão sempre connosco nestes encontros, e ajudarão, com a saudade que temos deles, a intensificar o brilho da chama dos afetos.
A espuma, aos poucos, esgotar-se-á na última bolha. Nessa altura, restará a limpedez do caminho que teremos pela frente, a partir de agora. Esse será o desafio em que poderemos de novo envolver-nos, com a restea de entusiasmo e sonho que guardámos na nossa juventude, fosse nas aulas, fosse nos intervalos delas. Esta restea não chegará para tudo, mas também não é preciso que faça tudo, basta que acenda mais uma fogueira. O resto que será preciso, fomos precavidos e temos andado a juntar, aos poucos, estes anos todos: sabedoria. Carradas dela, que ninguém tenha dúvidas! Esperem para ver!...

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